quarta-feira, dezembro 06, 2006

Do perdão e do arrependimento

Aprendi muito cedo com a minha mãe que pedir desculpas é inútil. Se eu era preguiçosa e não lavava a louça, de nada valia pedir desculpas. Pra ela era melhor que eu simplesmente me esforçasse pra não repetir o erro. E eu trouxe isso comigo. Eu odeio que me peçam desculpas, me dá arrepios. Acho um ato de humilhação desnecessário. Errou? Tudo bem, errar é humano, basta reconhecer o erro e trabalhar pra que ele não se repita.
Mas aí entra outro assunto delicado pra mim: arrependimento. Eu fui criada numa base religiosa muito forte. E em toda religião que se preze, o arrependimento é um passo muito importante rumo à "salvação". Reconhecer os seus pecados e se arrepender deles é fundamental para alcançar o perdão e a misericórdia divinos.
Acontece que eu não sei me arrepender. Não sei.
Quando eu penso em quanto merda eu já fiz na vida, não consigo me ver arrependida de ter feito qualquer uma delas. Eu posso até me arrepender de não ter errado mais, mas arrependimento pelos erros cometidos, isso não. E por quê? Porque todos os erros cometidos fizeram de mim a pessoa que sou. Todos os meus valores, todos os meus conhecimentos são fruto da educação dada por meus pais e do aprendizado adquirido na vida.
Fiz muita besteira, viajei muito, dancei muito, perdi muita noite, beijei muita boca errada, dormi em alcovas não recomendávies, fiz de tudo um pouco. Só não transei drogas, porque drogas, tô fora. Mas eu fiz de tudo um pouco, pelo menos o pouco que o meu dinheiro e minha condição social permitiram.
O resultado disso tudo é uma pessoa muito mais consciente, que tem um pouco mais de noção da vida (um pouco só, ainda falta muito...) Vi o que era errado, aceitei as consequências dos meus erros e aprendi a viver com elas. Tento não cometer os mesmos erros, estou à busca de novas modalidades. Mas não me arrependo de nada.
Quanto a fazer tudo de novo, já não sei. Às vezes acho que a vida de noiva-virgem-no-interior-do-paraná teria sido boa. Simples e suficientemente feliz. Mas quer saber? Adoro minha louca vida e espero que Deus tenha misericórdia de mim, mesmo não tendo eu me arrependido, para que eu possa viver ainda mais uns bons anos dessa doce loucura.
© 2006 Neurótica