segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Do medo, da superação e cumplicidade

Como citado no post anterior, fim de semana rolou um get away. Fomos pra um lodge nas montanhas geladas de West Virginia. Os planos eram de esquiar.
Eu, baianíssima que sou, não tinha absolutamente nenhum equipamento pra isso. Bonitinho foi atrás de calças, jaqueta, botas, luvas e tudo mais pra garantir que a bonitinha aqui não iria congelar.
Dirigimos sexta à noite, chegamos na casa, fizemos o social, bla bla bla. No sábado fomos alugar os esquis, bonitinho ainda quis me comprar mais coisas porque achou que eu não tava suficientement agasalhada.
Chegamos na pista de esqui, meu primeiro pânico: o tal do lift, o teleférico que leva você pra cima. Eu sempre vi em filmes e achava aquilo altamente absurdo e perigoso. Perigoso pra mim e pra minha falta de coordenação motora. Enfim, comi neve na primeira vez mas vi que não era tão difícil.
Chegamos na primeira descida que era o tal do bunny slope, ou seja, pra principiantes como eu e eu definitivamente entrei em pânico. Eu tentava ir pra um lado, o esqui ia pra outro. Eu tentava parar, ele nao parava. Pirei o cabeção, bonitinho com a maior paciência tentando me mostrar como fazer, mas eu não ia pra lugar nenhum. Eu disse a ele que aquilo era ridículo, totalmente sem sentido, que eu não tava me divertindo mas que eu queria que ele fosse se divertir. Ele que fosse esquiar enquanto eu ia tirar aquelas porcarias do meu pé e andar, porque gente foi feita pra andar. Desci o primeito slope andando (pense NA malhação). Até um menino de dez anos que viu meu sofrimento parou pra tentar ma ajudar, me dar uma dicas, mas eu disse a ele, eu sou uma causa perdida, esqueça. Fiquei um tempão parada, sozinha, pensando no quanto eu me odiava por ser tão covarde, e no quanto eu enganava as pessoas passando uma imagem de toda poderosa e segura, quando na verdade eu não passava de uma covarde inútil, chicken little, mulherzinha idiota. Bonitinho não aguentou me ver lá parada sozinha, veio até mim e disse - Você vai descer, vamos descer juntos. Eu vou segurar a sua mão e nós vamos conseguir fazer isso juntos.
E ele estava certo, e eu também estava certa quando eu disse que eu acredito que quando duas pessoas realmente se gostam e se dispõem a lutar juntas, elas podem fazer qualquer coisa. Ele segurou a minha mão o tempo todo, esquiamos, caímos, demos risada, caímos mais e demos muito mais risada. Foi perfeito. Foi uma experiência simples mas que teve um significado monstro porque sintetizou alguns aspectos muito importantes da minha vida. Eu tenho muitos medos monstruosos, mas com a pessoas certa ao meu lado, eu vou até o inferno e volto intacta.
No fim do dia tentamos nos arriscar na pista mais alta, mas chegando lá eu vi que seria too much pra mim, eu disse pra ele descer sozinho que eu pegaria o teleférico de volta. Ele disse que não, não e não, mas finalmente o carinha do resort apareceu e me deu uma carona no snow mobile. Bonitnho morreu de inveja, ele queria ter ido também. Foi ótimo. Rimos mais um tanto.
O tempo todo a preocupação dele era que eu me divertisse. Eu disse a ele que me deixasse soziha, que fosse se divertir e ele disse que não se divertiria se eu não me divertisse.
No caminho de volta pra casa, entre as milhares de conversas que temos, falávamos sobre a minha SUV, que tá velhinha, que talvez eu devesse me planejar pra trocar no fim do ano e ele diz - Não sei, eu gosto tanto dela, talvez eu devesse simplemente comprar um carro pra você e a gente mantém os dois.
O trocar a pessoa eu pela pessoa nós é tão bom e tão reconfortante. E eu não usava esse nós há tanto tempo que eu acho que tinha esquecido como é bom. Como é bom dividir os pesos, as alegrias, as contas, a cama, o banheiro, as tarefas, as conquistas, o carinho...
Enfim, fim de semana altamente produtivo.
O que foi bom, porque a semana comecou a mil aqui no trabalho.
Amanha posto umas fotos geladas...
© 2006 Neurótica